Um dia, um rio
Leo Cunha
Ilustrações de André Neves
Editora Pulo do Gato
Sabe aquele livro que te deixa sem palavras por ser tão belo? Pois é este!
O contraste da capa já mostra como o rio está e como deveria ser.
Antes da leitura iniciei uma conversa com as crianças,sobre a tragédia de Mariana. Turma do 4º ano, alunos entre 9 e 10 anos.
Muitos lembravam. Alguns contaram que assistiram reportagens na TV recentemente,relembrando a tragédia que completou 1 ano. Conversamos um pouco sobre o assunto,falamos sobre as mortes,o desrespeito,sobre ultrapassar barreiras...
Um silêncio reflexivo pairou no ar. Iniciei a leitura.
"Um Rio,O Rio Doce narra sua vida. De como era belo,útil e feliz. Texto e ilustrações vão se entrelaçando e contando a história. O rio corre limpo entre tribos e povoados,nossos olhos o acompanham atentos diante de tanta beleza! As páginas mostram a angústia por uma tragédia que se anuncia.
Espelho da Lua,
Caminho de Peixe,
Carinho de Pedra."
-"Olha a barragem aí,Silvia!" Gritou um aluno com os olhinhos brilhando,diante daquele gigante que mudaria o curso da história.
Sem palavras,literalmente. A imagem do "gigante" cuspindo lama produziu raiva e indignação nas crianças,que nem piscaram diante daquela cena triste de destruição.
"Eu era melodia...
Hoje sou silêncio."E o cenário mudou. Lama,tristeza e morte (do rio e das pessoas).
O rio vai contando como ele ficou após o rompimento da barragem.
"Com lágrimas de minério,vou sangrando até o mar."Pausa na leitura para explicar a metáfora diante do susto do sangramento.
O rio segue em suas recordações nostálgicas. Conta como era na margem de cá e na margem de lá e fala de como fora feliz. Mas agora chora por tudo e por todos.
As imagens de destruição e restos mortais no fundo do rio deixaram as crianças comovidas. Lama,brinquedos quebrados,escamas de peixes. Tudo morto num rio já sem vida.
O rio segue em seu lamento,mas começa a dar sinais de esperança.
"Flores nascem no deserto,
a água brota na rocha
e a luz, da escuridão.O cenário volta a clarear. O rio sonha e acredita que voltará a ser o que era, um dia.
Serei um rio,
um dia."
Silêncio profundo. Vejo os olhinhos lacrimejados de algumas crianças. Também não consigo falar nada. Muita emoção. Um aluno puxa os aplausos para a história e todos o seguem. Até que alguém falou:
-"Triste e bonito!" Outro falou: - "Muito triste!" Então conversamos sobre os livros e chegamos a conclusão que nem todos os finais são felizes e entendemos que essa história ainda não terminou,porque há esperança, há luz no fundo no rio e uma vontade enorme de recomeçar.
Voltaram os sorrisos e as afirmações de que amaram a história.
Um aluno quis saber porque o Leo Cunha escreveu essa história,então lemos seu belo relato impresso na segunda orelha do livro. Lemos também o depoimento de André Neves,que lindamente desenhou a saga do Rio Doce.
Terminamos a oficina com o coração repleto de esperança de dias melhores para a cidade de Mariana e para o rio.
Livro para pensar.
Para todas as infâncias.
Literatura Infantojuvenil com qualidade.
Essa é minha luta,sempre.
Bjs
Silvia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário